Wednesday, May 10, 2006

Porque tem uma hora que a hora chega

Porque tem uma hora que a hora chega. Tanto pras coisas começarem, quanto pras coisas terminarem. Queria estar no começo. Quando tudo eram rosas. Éramos felizes. Tínhamos poucos problemas. Nada que o nosso amor não superasse. Não víamos o limite com os nossos olhos. Nossos corações diziam que o infinito era o limite. Que ia ser pra sempre. Sabíamos. Certeza absoluta. A minha aflição era superada por um largo sorriso repleto de dentes. Lindos dentes. Sorriam ao me ver. Só davam lugar aos lábios para me beijar. Para dizer que eu era lindo e que me amava. Eu também fazia o impossível. Ela era única. Rainha. Agíamos como se todo o dia fosse o primeiro dia. Como se fossemos nos descobrindo a cada toque. A cada palavra. O tempo passou. Trouxe com ele desconfiança. Incertezas. Olhares oblíquos. Atravessados. A mais inconstante das relações. Idas e vindas. Altos e baixos. Dicotomias que me tornaram bipolar. Feliz/triste. Homem/menino. Tudo/nada. Aprender a andar sozinho novamente. Eis um problema. Suportar a saudade. Maldita saudade. Bastasse que eu lembrasse só do pior e saudade não sentiria. Meu cérebro é cruel comigo. Só puxa na memória a alegria. Aquele sorriso. Aqueles dentes. Aqueles dias. Que por mais que eu pense, por mais que eu deseje, não voltam. Teimam em não voltar. Fora isso, fico mirabolando milhões de possibilidade para tudo dar certo. Só que não depende só de mim. Que pena, amor. Que pena.


Rodolfo Mohr