Thursday, August 31, 2006

A preguiça, o medo e o Tempo - as amarras de uma geração

Minha geração tem preguiça
Esse verdadeiro mal do século
Responsável pela apatia
Extasiada pela rotina,
Pelo cansaço
É mais fácil assistir a tudo
De camarote ou na arquibancada
Levantar, questionar, replicar, treplicar, trepidar
Tudo isso consome energia
E Tempo
Todos hoje, além de terem preguiça, temem o Tempo
Por quê?
Se ele vai passar mesmo
Se isso é incorrigível?
Não sei por que as pessoas tremem
Diante do que está a sua frente
Alguns mandam
Todos obedecem
Ninguém ousa questionar
Quem questiona é infame
Pois, além de atrapalhar quem manda gasta algo que não voltará
Tempo
Tempo
Horas, minutos, os segundos se passam
Será que acham que estou perdendo Tempo dizendo isso?
Tentando mostrar que o Tempo de nada vale para os passivos?
O bom-humor, a ironia e o sarcasmo
Guardo pro dia-a-dia
Quando se tem o enfrentamento
Quando me confronto com o Tempo
Me divirto com ele
Não o temo
Ele não pára para eu sofrer a sua passagem
Ele apenas segue
Rindo de quem pára para entendê-lo
De quem diz e nada fala
De quem escuta e nada ouve
De quem não senti o cheiro das coisas
Aromáticas ou podres
Já não importa
Porque na verdade quem vai embora somos nós
Não o tempo
Ele é estático
Um espectador
Da palhaçada que fazemos de nossas vidas
Dos caminhos que tomamos
Ele se diverte
E não ri, gargalha!
De quem está por aqui agora
Buscando a resposta do segredo
Mesmo que aqui estivesse
Não estaria explícito
Estaria nesse 1,5
Espaço de infinito Tempo

Sunday, August 27, 2006

Loucuras

Escrever nesse blog foi umas das maiores loucuras que eu já cometi na vida. Escrever sobre o que eu penso, o que eu sinto, o que eu vejo. Sobre tudo e todos. Sou um livro aberto. Ou quase isso. Uso toda a literalidade possível para encobrir ou não me escancarar tão completamente. Meus textos me deixam mais nus do que muitas fotos que se encontram na rede. Isso acontece com todos que se expõem. Nessas horas é que gosto de ter um número de leitores próximo do zero. E será que eles vêm até aqui ler minhas opiniões e meus tentos literários ou só porque esse blog poderia ser a coisa mais próxima do big brother da minha vida?
Não sei. Também não consigo imaginar o que as pessoas pensam de mim. O feedback que eu obtive da maioria dos que conheci nessas últimas semanas não é muito positivo. Uma farsa, um charlatão, um plagiador, uma caricatura de alguém. Mesmo assim tem gente que me inveja. Por quê? Invejar isso é deprimente. Mas também tem cada tipo por aí.
Vou ter que me reconstruir. Não na essência, felizmente. Essa se mantém. Com falhas e virtudes. Nas medidas que me fazem ser o que poucas pessoas percebem que eu sou. Essas tem meu amor. Quase que incondicional. Porque nada é pra sempre. Porque sempre pode acontecer alguma coisa que mate um sentimento. Por qualquer razão. Porém, acredito que dificilmente essas pessoas farão algo desse tipo. Acreditar nas pessoas. Outra característica que exponho ao mundo. Mas que o mundo não expõe a mim. Quase ninguém acredita em alguém. Isso é ruim. Talvez não seja. Talvez meus conceitos sejam anacrônicos. O que por consequencia me tornaria anacrônico. Suposições. Reflexões. Divagações. Nenhuma exclamação. Vou deixar para gritar na rua. Onde mais pessoas me escutem. E se ninguém quiser ouvir, pelo menos lá estarão o seu Volmir e o seu Sinval. Sempre prontos para uma gorjeta ou para um grunhido gutural. Eles são engraçados. Devem ter um discernimento maior que o meu. Não esperam nada de ninguém. Aprenderam a se defender atacando.
Mais um texto chega ao fim sem conclusão. Quero ver até quando vou ficar esperando que ajam comigo como ajo com os outros. Não pagaria um centavo por isso. Mas viver minha vida é um dos poucos privilégios que tenho sem que me cobrem um centavo. Isso sim, é digno de inveja.
Rodolfo Mohr

Sunday, August 20, 2006

Sobre o que eu me tornei

Pensei que pudesse ser qualquer coisa na vida.

Jornalista, professor, psicólogo, mendigo, padre, Deus, escritor, poeta, lixeiro, jogador de futebol, campeão olímpico, juiz esportivo, descobridor dos sete mares, advogado, pedreiro, marinheiro, astronauta, artista plástico, pintor de parede, o Johnny Depp, peregrino, um amante latino, esquiador, o mochileiro das galáxias, Zeus, Dionísio, hacker, milionário, treinador de vôlei, relações públicas, imortal, invisível, campeão da América!, Marcopolo, chinês, polonês, inglês, paquistanês, cantor, um sonhador, filosófo, já disse que pensei em ser poeta? Pensei que até infinito eu pudesse ser um dia.
Pensei em tudo, menos isso.
Rodolfo Mohr

Saturday, August 12, 2006

O Caçador de Pipas

Amir e Hassan. Nunca tinha me passado pela cabeça a idéia de que a história de duas crianças no Afeganistão do fim da década de 60 e início da 70 pudesse me trazer algum interesse. Sorte Khaled Hosseini ter tido essa idéia e através de suas palavras vir até Porto Alegre despertar o aguçado senso de leitora da minha mãe.
O Caçador de Pipas, primeiro romance do talentoso escritor Khaled Hosseini é fantástico. Como Isabel Allende definiu "todos os grandes temas da literatura e da vida são o material com que é tecido este romance extraordinário: amor, honra, culpa, medo, redenção".
Contradizendo-me não foi sorte o que ocorreu para Hosseini desenrolar o barbante dessa pipa que alçou vôos imediatamente. Nascido em Cabul em 1965 e exilado político nos EUA desde 1980, Hosseini utilizou todo seu conhecimento de campo e tornou sua obra tão verossímil a ponto de se poder jurar que esta é uma biografia. Ou própria ou de alguém muito próximo. Torço firmemente para ser apenas mais um romance com personagens fictícias em que a angústia, o choque, a injustiça, a covardia, apresentam-se totalmente cruas e desnudas. Ao ponto de se sentir o cheiro da maldade de algumas personagens ou ver a poeira levantando das ruas de chão batido do velho Afeganistão.
Hosseini se destaca, logo no seu primeiro livro, exatamente por isso, por nos transportar para Cabul, para Peshwar no Paquistão, para San Francisco nos EUA. Por trazer os odores impressos nas páginas da bela edição brasileira trazido pela Editora Nova Fronteira. Por ser impossível largar o livro antes que se saiba se realmente "há um jeito de ser bom de novo" como disse Rahim Khan a Amir um minuto antes de desligar o telefone.
Após mais de 350 páginas dessa envolvente história nada melhor retornar ao capítulo inicial e fazê-lo ter sentido. E saber porque, por Amir, Hassan "faria isso mil vezes".
Rodolfo Mohr